O mercado flutuante de Bangkok
O dia começou bem cedo e a boa disposição juntou-se a nós, juntamente
com o meu origami amarelo.
Trocamos um punhado de baht por uma viagem que supostamente nos levava
para o mercado flutuante, de Bangkok. Quase duas horas depois, o pequeno autocarro deixou-nos e, antes de podermos perguntar onde
começava o mercado, abandonou o local. Deixou uma poeira no ar e uma dúvida
instalada.
Minutos depois, uma jovem menina explicou-nos que estávamos a uns belos
metros de distância. Teríamos de usar um barco para entrar no mercado
flutuante.
Bastaram uns segundos para perceber que se tratava de mais esquema. Fechei os olhos, inspirei todo o ar que consegui até sentir os pulmões
cheios e depois expirei rapidamente. Tentei explicar, com a maior calma que
consegui, que já tínhamos pago o bilhete diretamente para o mercado. Perante a
minha angústia, ela encolheu os ombros e rematou que não havia outra solução.
Metemos, então, os pés nas tábuas de madeira que ressaltaram o nosso
peso. Ouvimos um rangido, ao de leve. O barco balançou e a água tremeu. Mas o
marinheiro era experiente. Ligou o motor. Deixando umas ondas se esvaírem nas margens do rio.
A bandeira da Tailândia espetada na proa indicava qual o caminho.
E que caminho. Um labirinto de canais cercado por postes de eletricidade que saiam
do rio e palafitas residenciais. São casas de madeira construídas em cima da
água. Estavam desgastadas do sol, com uma cor desvanecida. As varandas são substituídas
por estrados de madeira molhados. Aqui colocam-se os pequenos templos cobertos
de flores e com cheiro a fé. As plantas vão crescendo por entre os troncos de
madeira que sustentam as casas. O bambu ajuda a suportar o peso.
Viam-se barcos estacionados na garagem improvisada.
Outros passavam por nós, conduzidos por mulheres de sorriso fácil e chapéus de palha finamente
traçada. O barco é o seu sustento. Remam com leveza e graça e cobrem a pele com roupas largas. Por entre panelas
e colheres de pau, balanças e especiarias frescas lá encontramos frutas e
comidas tailandesas. O carvão dourava as espetadas de lulas brancas como a cal.
As cores ressaltavam-nos à vista, o sol aquecia a pele e umas bananas
aguentaram-nos por esta viagem.
Por momentos fez-me lembrar Veneza.
Os mais velhos balanceavam-se nas cadeiras de pano, os mais novos
banhavam-se na água fresca e as mulheres lavavam a loiça no rio.
Nas margens dos canais, plataformas de cimento suportavam artigos de
decoração, malas, especiarias secas, instrumentos musicais e quadros cuidadosamente
esculpidos.
Havia também lojas flutuantes, em pequenas jangadas.
E o nosso marinheiro ia encostando ou abrandando.
Muitas negociações e poucas compras. Os preços são exagerados. Mas o
esforço por mais uma venda é proporcional à simpatia.
Uma experiência diferente, molhada num cenário que se movimenta sem
pressa. Fica na memória as águas calmas, o caos dos vendedores e as cores das frutas
tropicais que conferem uma mistura de aromas deliciosa.
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